Uma alternativa para a falta de armazéns

A produção de grãos tem avançado a cada ano no Brasil, como resultado do aumento da produtividade e da área cultivada. De acordo com previsão recente do IBGE, a colheita de 2017 será recorde, com aproximadamente 241 milhões de toneladas, alavancada pelo alto desempenho do milho e da soja. No entanto, a armazenagem não está em sintonia com esse crescimento.

A matemática não deixa dúvidas: a capacidade estática de armazenamento de grãos no país está em 157,6 milhões de toneladas, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) de 2016. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) recomenda que a capacidade de estocagem de uma nação seja de 1,2 vezes sua produção agrícola. Com a estrutura que temos, mesmo considerando que todos os armazéns brasileiros estivessem livres, este ano contabilizamos um déficit em torno de 83 milhões de toneladas.

E o que isso representa? Estocagem de forma inadequada (em muitos casos, a céu aberto) e venda do produto diretamente do campo. Nos dois cenários, o prejuízo é quase sempre certo – seja pela possível perda de qualidade do produto armazenado de forma indevida, seja pela venda do produto a baixo preço, por ser período de safra, quando há grande quantidade disponível no mercado.

Diante das dificuldades, uma solução encontrada por agricultores é a constituição de condomínios de armazéns. Devidamente formalizados por estatutos, possibilitam ratear os custos de estocagem, preservar o produto da maneira correta e efetuar a venda em momento oportuno, quando o preço estiver mais alto.

Além disso, trabalhando de forma coletiva e reunindo esforços, valores e bens para dar em garantia, é possível obter financiamentos de montantes mais elevados e com juros mais baixos. Nada mais oportuno: por meio do Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018, o Governo Federal disponibilizará R$ 1,6 bilhões para construção e ampliação de armazéns, a juros de 6,5% ao ano.

Segundo projeção do Ministério da Agricultura, a produção nacional de grãos deverá crescer 21,5% na próxima década – o que representará um aumento de 51 milhões de toneladas em relação à atual safra. A capacidade de estocagem precisará acompanhar essa expansão, dando um grande salto. E a iniciativa dos produtores, que estão se unindo em condomínios de armazéns, constitui uma alternativa concreta para a falta de locais de armazenagem. Ainda há muito a ser feito, mas temos um caminho viável para o futuro.

 

Ricardo Makcemiuk

Advogado especialista em agronegócio

ricardo@scaadvocacia.com.br