Passando o Brasil a limpo

Pesquisa recente de uma consultoria de recursos humanos mostra que 27% dos executivos em cargos de comando têm algum tipo de desvio de caráter: desde estrutura emocional fragilizada e autoimagem inflada até mentiras, assédio e tendência a apropriação de recursos. Esse cenário merece atenção, pois oferece riscos não apenas para as empresas, mas para toda a sociedade.

Fatores externos propiciam esse comportamento: ausência de controles corporativos, percepção de impunidade e desconhecimento sobre efeitos de inovações legais. Com a Lei Anticorrupção, será envolvida não só a pessoa física de seus representantes, como também passa a alcançar a organização em sua personificação jurídica. No panorama atual, a companhia é responsável pela reparação dos prejuízos, com as multas podendo alcançar até 20% de seu faturamento bruto. Em alguns casos, há ainda a possibilidade de encerramento das atividades.

As mudanças não param por aí. Nos últimos anos, estruturas de poder e corporações até então intocáveis foram atingidas. Também assistimos ao início de um movimento de combate ao tráfico de influência e ao debate da hipertrofia pública – que dá espaço a negociatas e crises fiscais sem precedentes. Por fim, interesses privados foram colocados acima dos públicos.

Devemos questionar: os avanços recentes vão parar por aí ou o país aprendeu e está evoluindo, estando pronto para fazer as mudanças necessárias? Já passou a hora de o Estado ser reestruturado, de forma que não se legitime somente para sustentar sua própria existência. Nesse novo cenário, o aparato estatal deverá servir a sociedade.

Por outro lado, a iniciativa privada também tem sua chance de promover melhorias a partir de governança corporativa e compliance. Porém, é preciso ir além. Os novos tempos impõem a disseminação de práticas que, ao corrigirem costumes do mercado, fortalecerão uma estrutura econômica sadia

Para promover um mercado mais justo e livre do “jeitinho brasileiro”, empresas e executivos têm o dever de quebrar paradigmas. Dessa forma, combaterão não só os atos de agentes nocivos ao bem comum, mas promoverão um novo esteio cultural para a construção de um país melhor.

Maurício André Gonçalves

Advogado e coordenador da área Tributária, Societária e Compliance do escritório Scalzilli Althaus