Funcionários idosos e de setores administrativos de áreas essenciais e não essenciais: como as empresas devem agir?

Fonte: Jornal do Comércio

Data:24/03/2010

Com o avanço da pandemia de coronavírus e mais rigor sobre a necessidade de isolamento social – definido em decretos de autoridades, surgem dúvidas e até denúncias de que pessoas com mais de 60 anos continuam nos locais de trabalho e até mesmo áreas administrativas de empresas registram aglomeração, com número elevado de funcionários.
Jornal do Comércio conversou com uma especialista que assessora juridicamente entidades do setor patronal para esclarecer aspectos sobre como deve ser o trabalho e quando não se deve manter nenhum empregado na operação presencial: “Precisa ter senso de coletividade. Encaminhar as áreas administrativas para home-office é questão de consciência”, adverte a advogada trabalhista do escritório Scalzilli Althaus Kerlen Costa.
Nesta segunda-feira (23), a prefeitura de Porto Alegre fez esclarecimentos sobre a operação de setores como telemarketing e escritórios de contabilidade.
O telemarketing pode funcionar presencialmente, mas deve mantar as mesas dos operadores com distância mínima de dois metros entre elas, orientou a prefeitura. Já os escritórios da área contábil que não puderem realizar todas as suas atividades de forma remota poderão, até 27 de março, operar com 30% do total de empregados de forma presencial.

Empresa que não é serviço essencial

Municípios vêm definindo as áreas que podem manter funcionamento e que abrangem principalmente serviços essenciais ou que fornecem produtos ou serviços a segmentos que não podem parar.
A advogada é muito clara: “Só podem operar as empresas que são atividades essenciais. Se a empresa não for essencial, não pode continuar operando e pronto, sem exceções”.
Nas exceções, como supermercados, indústrias de ramos de alimentos e saúde e outros prestadores ligados à assistência e abastecimento, a advogada cita que há dois caminhos: adotar home-office no máximo de setores da empresa – e a área administrativa é uma delas -; e onde não for possível ser 100% remoto, deve-se adotar as medidas de distanciamento dos funcionários, quantidade de pessoas atuando no mesmo lugar e de higiene.

Idosos: não podem estar em locais de trabalho

Os idosos fazem parte dos grupos de risco da Covid-19, por isso que estão sendo alvo das medidas mais restritivas, com proibição até de sair de casa. Porto Alegre e muitas cidades estão tomando esta medida extremapois muitas pessoas continuam a se expor a riscos ao sair de casa.
“Idosos estão proibidos de trabalhar em Porto Alegre. As empresas não podem realmente estar com eles trabalhando. Isto é proibido. Vale para todas as empresas e até as de setores essenciais”, frisa Kerlen, que recomenda que os empregadores busquem os decretos do governo estadual e das cidades onde atuam para saber as medidas específicas.

Home-office preferencialmente no serviço essencial

Kerlen Costa defende que todos os funcionários que têm condição de atuar em home-office o façam. A Medida Provisória, lançada nesse domingo (22), retirou burocracias para o teletrabalho, lembrou a especialista.
A advogada lembra que atividades que não podem parar precisam dar condição para que os funcionários trabalhem de casa. “Se a pessoa não tem computador, a empresa pode emprestar. Para custear gasto com internet e energia, pode-se pagar um valor extra, que não será absurdo, para cobrir a despesa. É uma questão de flexibilidade”, explica.
Kerlen lembra que para muitas situações não há nem jurisprudência, pois é a primeira vez que o País passa por tamanha contingência. “Tudo é ajustado para minimizar os impactos. Precisamos sobreviver, as empresas e os empregados. Queremos que as empresas permaneçam vivas”, arremata a advogada.

Súpers garantem adequação às regras

Procurada para saber da conduta dos estabelecimentos, já que supermercados podem abrir, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) informou que está orientando que “seja adotado home-office a todos que possam trabalhar de forma remota, e também a afastar os colaboradores do grupo de risco”. A Agas diz que 90% das empresas estão seguindo as recomendações.
Zaffari foi questionado sobre os procedimentos, pois o Jornal do Comércio recebeu informações de funcionários de que estaria tendo concentração de pessoas nas áreas administrativas da sede em Porto Alegre. Segundo a rede, “para manter o abastecimento e a reposição dos produtos nas lojas é necessário que a área administrativa continue em contato constante com as empresas fornecedoras”.
A rede garantiu que as pessoas que podem fazer o trabalho de forma remota estão nesta condição. “Empregados acima de 60 anos já foram liberados para permanecer em casa”, diz em nota. Medidas de prevenção e proteção indicadas pelos órgãos de saúde, como distanciamento entre as mesas de trabalho e uso de álcool em gel, foram adotadas para os setores que não têm como se afastar.
Lojas Renner informou que as equipes administrativas estão, “em quase sua totalidade”, atuando em regime de home office. Já centros de distribuição e centrais de atendimento têm pessoal reduzido, diz a companhia. A Renner decidiu fechar todas as lojas físicas no Brasil e na Argentina e no Uruguai.
Kerlen Costa

Advogada Trabalhista