09 jan Choque de gestão evita recuperação judicial
Hoje a tendência de empresas em crise, quando o cenário se agrava, tem sido buscar a recuperação judicial. No meio do caminho, porém, há fórmulas e opiniões com soluções diversas para o estado de dificuldade. No caso das médias e grandes empresas, as mais suscetíveis a usufruir do beneficio da recuperação judicial, tem havido decisões precipitadas, com visões de curto prazo, para solução de problemas imediatos, mas sem atacar a crise estrutural que assola muitas corporações há anos. A ciência da crise mostra que há soluções efetivas antes da moratória judicial.
O equivoco está em conceituar o problema e a solução como sendo unicamente financeiros, com planilhas e fórmulas matemáticas. O choque de gestão começa com uma mudança de cultura de dentro para fora da empresa. De início o empresário precisa saber realmente o valor e o perfil de seu passivo. A maioria não sabe o tamanho do rombo. O descontrole leva à perda de informação. O modelo de gestão equivocado é buscar mais dinheiro no mercado para pagar as dívidas ou se financiar eternamente em cima de fornecedores, empregados ou fisco. O dinheiro novo, quando existe, é caro e até pode aliviar a operação no curto prazo, mas mais adiante derrete as margens da empresa, muitas vezes já negativas.
A empresa precisa entender que o salvamento só se dá por dois caminhos. Um, com a venda de ativos, quando existentes e livres para alienação, ou, em segundo lugar, com a proteção do fluxo de caixa futuro da empresa. Esse é o ponto de partida para sair desse espiral danoso. O futuro, não o passado! É a operação futura (receita, despesa e margem positiva) que permitirá pagar a dívida passada. Os compromissos correntes e futuros devem ser priorizados para, de início, buscar o equilíbrio da operação e a confiança do mercado. Hoje se faz o inverso. Impressionantemente. Busca-se dinheiro novo a qualquer custo para pagamento dos credores, atrasando salários, impostos, compra de matéria-prima, que acabam por atrofiar ainda mais a operação que morrerá por inanição.
Num cenário de crise seria hipocrisia dizer que os credores têm tratamento igual. Aqueles estratégicos e que fornecem para empresa são e devem ser priorizados, para manter a estrutura funcionando. Os não estratégicos devem ser consolidados em um quadro geral para futuro pagamento. Informação e mobilização dos colaboradores são fundamentais nessa hora, com organização e tarefas dentro de um plano claro a ser seguido. Todos sem exceção têm um papel fundamental nesse novo cenário.
Um grupo vai para o mercado buscar vendas e receitas; o outro se mobiliza internamente em prol da redução de custos e negociação com os credores, respeitando as possibilidades do caixa real. A empresa terá de se blindar ao máximo dentro das regras de mercado para evitar pressões que coloquem em risco a operação. Uma estratégia nessa linha, mesmo que num primeiro momento traga desaprovação, leva a mensagem ao mercado de que há um plano em execução, trazendo aos poucos confiança e diálogo com os credores. Ninguém, credor ou devedor, quer ir para a Justiça! O processo no Brasil é caro, demorado e nunca se sabe o resultado. É gestão pura. Se bem aplicada, tem evitado em muitos casos a tomada de decisão pela recuperação judicial, processo oneroso e que ainda tem desconfiança do mercado.