25 mar A Gestão do Risco nas Empresas
O que não é medido não é controlado! Por mais que pareça um clichê corporativo, em matéria de análise de riscos, as empresas brasileiras ainda tem muito a evoluir.
O risco não medido, muitas vezes atinge o caixa da empresa em cheio, gera custo financeiro, encarece a operação, tira eficiência, diminui as margens e pronto, entramos no ciclo da crise da companhia. Daqui para frente a maioria dos empresários já conhece o fim da história.
Grande parte das empresas brasileiras centraliza ou estrutura sua área de risco voltada unicamente para a área financeira, analisando apenas os números da corporação e acompanhando alguns indicadores de mercado. A análise, portanto, é rasa, levando-se em conta a complexidade e conectividade do mundo atual.
As auditorias internas, se existentes, focam em riscos operacionais e de controle interno de processos, os quais muitas vezes estão na cartilha ou no manual corporativo, que há anos não passam por qualquer revisão.
Os comitês de gestão de riscos corporativos são órgãos ainda raros, e muitas vezes não permanentes nas instituições, voltados a auxiliar de forma técnica o comitê de auditoria ou que geram relatórios complexos e sem grande utilidade.
Os riscos devem ser avaliados, conforme cada empresa e a atividade que esta desenvolve. Empresas são organismos vivos, sujeitas aos mais diversos fatores de riscos, relacionamentos e oportunidades, internos e externos. É importante, neste cenário, que o Conselho de Administração que conduz o planejamento estratégico da empresa e deve em ultima instância avaliar os riscos, estruture esta área e cobre de seus executivos e gestores que o risco não seja trabalhado apenas no estrito cumprimento legal e regulatório, mas que se vá além, construindo mecanismos em constante evolução para prever as incertezas e propagar a transparência.
Os riscos hoje são os mais variados, mas podem ser agrupados como risco de mercado, risco de crédito e risco operacional. Nessa estrutura podemos abordar diversos fatores que podem impactar a empresa em qualquer uma das esferas tais como: a instabilidade política que o país vive em época eleitoral; a mudança na política de tributação, na taxa de juros, na volatilidade do câmbio, no aumento da competitividade dos concorrentes. O risco pode advir ainda de mudanças regulatórias, no aumento do preço dos insumos, na concentração de clientes e fornecedores, na falha na implementação de novas tecnologias, em downgrades nos ratings para obtenção de crédito, em mudanças na legislação trabalhista, na diplomacia entre nações, na falta de energia elétrica, na pirataria e tantos outros.
Quanto mais se amplia o horizonte de análise em volta de uma empresa, seu setor, seu momento histórico e sua cultura, certamente maior vai ficando os potenciais riscos que este se sujeita.
A própria lei anticorrupção e ajustes de compliance podem ser vistos como risco para operações acostumadas a trabalhar em mercados poucos transparentes e com entes públicos. O Big Data e a gestão da informação em muitas empresas são ainda tratados apenas como questão operacional e de oportunidade de desenvolvimento de novos produtos e serviços direcionados ao cliente; há pouca análise de gestão de risco e de impacto futuro desta realidade nas operações.
O governo americano, após a crise que assolou o sistema financeiro aperfeiçoou seu sistema de controle, realizando anualmente nas instituições financeiras e bancos comerciais um teste de stress, para verificar se os mesmos possuem capital suficiente em caso de um cenário negativo. São analisados os riscos de crédito, operacional e de trading. Dependendo do resultado, as empresas são compelidas a emitir ações, tomar empréstimos ou emitir debentures para recompor o caixa, mas certamente com dinheiro mais em conta do que em cenários de crise aguda ou mais especulativo.
Neste prisma, nos próximos anos veremos, junto com a evolução da governança corporativa nas empresas, as áreas de risco ganhando mais protagonismo e investimento; trazendo e formando gente capacitada a trabalhar o valor da previsibilidade. A final vale o velho ditado: é melhor prevenir do que remediar.