Joint venture fracassa e terceirizada da Petrobrás pede recuperação

A 1ª Vara de Falências de São Paulo concedeu o prazo de 180 dias para a Unicontrol, empresa de engenharia de sistemas de controle e automação comercial, reestruturar dívidas contraídas a partir da crise econômica de 2008. A companhia entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado, pois vinha passando por dificuldades financeiras e já acumulava passivo de R$ 40 milhões, com diversos credores.

Com base na Lei 11.101/2005, a Lei de Recuperações e Falências, a Justiça de São Paulo suspendeu todas as ações ou execuções impetradas contra a empresa para que ela possa apresentar um plano de recuperação e negociar com os credores. Entre os maiores credores estão o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Bradesco, o Itaú e o Santander, além de fornecedores.

Pela LRF, a empresa que está em recuperação não precisa encerrar suas atividades, mas deve mostrar, em juízo e à Fazenda Pública, relatórios mensais de desempenho. Para isso, a Vara de Falências de SP nomeou Valdor Faccio como administrador judicial do processo em que se encontra a Unicontrol. A companhia é representada pelo advogado Marcelo Merlino , do Merlino Advogados.

No fim do prazo de seis meses, a companhia deve apresentar um plano de recuperação, com propostas de negociação de suas dívidas com cada credor. Essas negociações serão acompanhadas pela Justiça e, de acordo com a sentença, devem ser comunicadas a todos os interessados por meio de edital.

Os negócios internacionais e a crise econômica
A Unicontrol atua no mesmo ramo desde 1984, e se especializou em prestar serviços e fornecer produtos para plataformas de petróleo de gás. Chegou a firmar contrato de dois anos com a Petrobras para fornecimento de suporte técnico aos sistemas de supervisão e controle de 30 plataformas de prospecção de petróleo da estatal, em projetos nacionais e internacionais.

Em 2001, a Unicontrol se aliou à canadense Sea Systems para constituir uma joint venture (terceira empresa com capital dividido entre as duas) e atender a demandas da Petrobrás. O negócio prosperou até o estouro da crise financeira em 2008.

Com a crise, a Sea Systems foi fortemente abalada, e teve de abandonar a joint venture – e, consequentemente, a Unicontrol e o Brasil. Foi o início do processo de crise interna da brasileira, que já empregou dois mil funcionários, e hoje emprega cerca de cem.

À medida que a crise se aprofundava, contratos de terceirização foram sendo abandonados, principalmente pela Petrobras. Em 2007, a empresa tinha um passivo circulante de R$ 5,5 milhões, e em 2008 a cifra saltou para R$ 19,2 milhões. Em 2011, o passivo já era de R$ 23,9 milhões.

E ao mesmo tempo em que a dívida cresceu, o lucro diminuiu e virou prejuízo. Em 2007, a empresa havia registrado ganhos de R$ 2,2 milhões, e em 2008 já havia prejuízo de R$ 1,2 milhões. Em 2009, o resultado era negativo em R$ 1,8 milhões e, em 2011, em R$ 6,4 milhões.

Hoje, com o retorno dos investimentos no setor, e principalmente com as oportunidades advindas da descoberta de petróleo na camada pré-sal, a companhia acredita que consegue se recuperar.

Mas não sozinha. De acordo com a petição inicial da Unicontrol, a decisão de entrar com o pedido de recuperação judicial foi estratégica, pois ela já não conseguiria mais saldar todo o seu passivo sem ajuda do Judiciário. A empresa enfrenta ações de cobrança, de execução fiscal e até trabalhistas – principalmente por conta do atraso dos salários e das demissões, decorrentes da crise interna.

Com o deferimento do pedido de recuperação, a companhia vai se reestruturar para fazer novos negócios, poder voltar a faturar e negociar suas dívidas. Uma das garantias de que pode pagar seus débitos é demonstrar a evolução de seus negócios nos últimos meses. Cabe, depois, aos credores aceitarem e negociarem os termos da negociação.