Gás de xisto afeta projetos da química verde

Jefferson Klein

A chamada química verde (que utiliza como matéria-prima insumos renováveis, como a cana-de-açúcar), há alguns anos, era uma tendência e se apresentava como um mercado promissor. No entanto, atualmente, o segmento enfrenta cada vez mais novos obstáculos para o seu crescimento. A ameaça da vez atende pelo nome shale gas (gás extraído das rochas de xisto), que representa um diferencial de custo em favor das empresas localizadas nos Estados Unidos.

O diretor da consultoria MaxiQuim Otávio Carvalho comenta que o produto verde representa um ganho de marketing devido ao apelo ambiental. Porém, quanto a custos, ele é mais caro do que o material fabricado a partir do insumo fóssil. Essa diferença tende a aumentar com o aproveitamento do gás de xisto norte-americano. Carvalho estima que o gás natural no Brasil esteja, hoje, cerca de duas vezes e meia mais caro do que o de xisto.

Se a situação afeta a química e a petroquímica convencionais, o problema é intensificado no segmento verde. Recentemente, as companhias Dow Chemical e a Mitsui decidiram adiar a construção, em Minas Gerais, de uma planta de polietileno verde. Outro complexo que segue com cronograma indefinido é o da unidade de polipropileno verde da Braskem (o Rio Grande do Sul é um dos candidatos a receber esse investimento). A estrutura deverá ter uma capacidade mínima de produção de 30 mil toneladas por ano e deve absorver em torno de R$ 170 milhões. Em 2010, a Braskem inaugurou a sua primeira planta verde em Triunfo. A unidade recebeu o investimento de R$ 500 milhões e tem uma capacidade para produzir anualmente 200 mil toneladas de eteno, que são transformadas em 200 mil toneladas de polietileno, destinadas à produção de sacolas, embalagens e outros itens.

Carvalho lembra que o gás de xisto representa duplo impacto para a cadeia da petroquímica: uma fonte mais barata para a geração de energia elétrica e matéria-prima para os produtos petroquímicos. “A grande vantagem dos americanos é que agora eles têm as duas coisas acessíveis”, reforça o diretor da MaxiQuim. Ele argumenta que o shale gas é algo que não deve assustar as empresas brasileiras, mas elas terão que se preparar para esse novo cenário que se apresenta. “O impacto é importante, é uma revolução nos Estados Unidos, e esse efeito acaba chegando aqui na forma de produtos mais baratos”, aponta o consultor. Além disso, ele destaca que alguns investimentos que poderiam ser feitos no Brasil podem ser atraídos para os Estados Unidos devido ao custo da matéria-prima.

Carvalho considera que é preciso buscar uma paridade da matéria-prima com os norte-americanos. O governo federal já tem dado sinais de que tomará medidas para proteger a indústria química brasileira. No mês passado, foi anunciada a ampliação dos créditos de PIS/Cofins gerados pelas compras de matérias-primas petroquímicas, como nafta, HLR, etano, propano, butano, e os produtos da primeira geração petroquímica – eteno, propeno, buteno, butadieno, ortoxileno, benzeno, tolueno, isopropeno e paraxileno. Na prática, ao adquirir insumos para a fabricação de produtos químicos, as empresas recolherão 1% de PIS/Cofins e terão um crédito tributário de 9,25%. Tal incentivo tributário iniciou neste ano, e sua vigência será até 2015. A partir de 2016, o valor do crédito tributário cairá 2% ao ano, de modo que em 2016 se reduzirá de 8,25% para 6,25%, em 2017 para 4,25% e, em 2018, volta ao patamar atual de 3,65%.

Segundo a diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira, essa era uma das principais medidas pleiteadas pela Abiquim durante as discussões no Conselho de Competitividade, especialmente quando se leva em consideração o peso da matéria-prima, da ordem de 70%. Apesar disso, Fátima pondera a importância das demais medidas defendidas pela Abiquim: política específica para o uso do gás natural como matéria-prima, desoneração de investimento e estímulo às atividades de P&D.