17 ago Frigorífico Diplomata pede recuperação judicial
Com dívidas de cerca de R$ 500 milhões, a Diplomata, empresa avícola controlada pelo deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB), aguarda julgamento de pedido de recuperação judicial feito no começo do mês na 1ª Vara cível de Cascavel, oeste do Paraná, onde fica sua sede. A empresa enfrenta problemas há pelo menos três anos e viu a situação piorar com a recente disparada dos preços de soja e milho, usados em rações. Sem matéria-prima e com o caixa desfalcado, a empresa deixou de fornecer ração para integrados, o que chegou a matar frangos de fome.
Não há levantamento de quantos animais morreram e a empresa não fala sobre o assunto. Procurado pelo Valor, Kaefer não deu entrevista. Fabio Forti, um dos advogados da ação, diz que não houve saída diante do “volume alto de credores”. Segundo ele, metade da dívida é com bancos e o restante com outras partes, o que inclui criadores de aves. Além da Diplomata, outras quatro companhias de Kaefer estão no processo, entre elas jornais e uma empresa de engenharia.
Nesta semana, imagens de frangos mortos em granjas da Diplomata ganharam o país. Eiji Kobayashi, de Bela Vista do Paraíso, no norte do Estado, ficou três dias sem ração e, hoje, vai entregar o último lote de frango para ser abatido pela Diplomata. Na propriedade dele aves não devoraram outras aves, como foi visto em outros locais, mas os animais passaram esse período apenas com água e comendo a chamada “cama do frango”. Ele recebia 31 mil pintinhos a cada 48 dias e, agora, vai procurar outra empresa como parceira. Foi o que fez João Dimas Pozzobom, que está reformando o barracão para passar a atender a Jaguafrangos, de Jaguapitã (PR). “Estou com dois lotes para receber, de maio e de julho, e entrei na Justiça”, conta.
Kaefer entrou na política em 2006. Em 2011, fez uma proposta para assumir com o frigorífico Independência. Suas empresas faturaram R$ 1 bilhão em 2011 e, no site da Diplomata, há a informação de que o grupo emprega 8 mil pessoas. A empresa suspendeu no mês passado abates em Londrina e Mandirituba, demitiu 900 pessoas nesses locais e manteve operações em Capanema e Xaxim, a última em Santa Catarina.
Durante a semana, trabalhadores de uma fábrica de ração da empresa, em Cascavel, deixaram de trabalhar três dias, em protesto pelo atraso nos salários de julho, acertados na quarta-feira. “Falta o pagamento do FGTS, que está atrasado há bastante tempo, e do vale refeição”, conta José Evangelista, tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Bela Vista do Paraíso. Segundo ele, o pessoal de uma indústria de óleo do grupo também está com os salários atrasados.
O Paraná é o maior produtor de frango do Brasil. O presidente do Sindiavipar, sindicato que reúne as indústrias, Domingos Martins, acredita que a avicultura no Estado sofrerá uma desaceleração, devido à alta dos preços dos insumos.
Irmão de Alfredo Kaefer, Roberto Kaefer, dono da Globoaves, maior produtora de ovos férteis e pintos de um dia da América Latina, reduziu o alojamento de aves em 15%. “As empresas estão com dificuldades, descapitalizadas”, conta ele, que admite não estar com os pagamentos a fornecedores em dia e ter contas a receber de clientes. Entre as grandes produtoras de frango do Paraná estão as cooperativas que, na opinião de Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, conseguem diluir o problema com a integração, e a diversificação.