24 maio Custo de empregado para empresa é quase 3 vezes o salário
O custo de um trabalhador para a empresa pode ser de 2,83 vezes seu salário de carteira, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta quarta-feira. O gasto é decorrente não só de impostos, mas de um conjunto de obrigações acessórias, como benefícios negociados, burocracia e até gestão do trabalho.
A pesquisa foi feita com duas empresas do setor têxtil de São Paulo e Santa Catarina. Segundo o estudo, um funcionário que recebe salário de R$ 730 com vínculo trabalhista de 12 meses pode custar para a empresa, R$ 2.067,44 por mês. Se o tempo de contrato subir para cinco anos, o valor mensal cai para R$ 1.858,89.
O custo do trabalhador para a empresa pode ser dividido em três grupos. Além do próprio salário, o trabalhador tem uma “valoração”, de acordo com o professor André Portela Souza, coordenador do Centro de Microeconomia e um dos autores da pesquisa. “Ele recebe benefícios, como 13º salário, adicional de férias, vale transporte e o próprio tempo de treinamento”, afirma. Segundo Portela, o empregado recém-contratado leva até três meses para alcançar seu nível máximo de produtividade – e tudo isso reflete no gasto da empresa.
Além disso, há custos de compensação do empregado, como FGTS, INSS, aviso prévio indenizado e multa FGTS sobre o salário, em caso de demissão, e benefícios de negociação coletiva, como auxílio-creche e cesta básica. Em outro grupo, os pesquisadores reuniram impostos e encargos trabalhistas e, principalmente, custos gerenciais. “Computamos um gasto enorme de simplesmente administração de pessoal. Não é um custo exigido pela legislação trabalhista, mas ela é tão complexa que é necessário um investimento grande nisso”, afirma Vladimir Ponczek, coautor do estudo.
Outros setores
Por ter sido feito com base no setor têxtil, os valores devem ser transpostos para outras áreas com cautela, alerta Portela. “O custo do trabalho brasileiro varia conforme o setor e a localidade”, diz ele. Mas o modelo de discriminação dos gastos pode ser aplicado independentemente da área.
“Podemos ver que o custo da legislação trabalhista, para um trabalhador que receba R$ 730 por mês, é de R$ 909. Isso representa 44% do custo total que a empresa tem para contratá-lo”, explica Portela. Os altos encargos junto com uma baixa produtividade são uma combinação “venenosa” para a produtividade, segundo ele.
Segundo Vladimir Ponczek, os dados da pesquisa podem contribuir para “racionalizar” o processo de produção. “De forma que fossem mantidos os mesmos benefícios ao trabalhador, mas sem ter tanto gasto para a empresa”, disse ele. “Nossa ideia é, com a informação, ajudar a organizar esse debate, tanto para o setor público, quanto para o privado”, completou Portela.