22 fev ABEEólica comemora competitividade da energia eólica e prevê quatro leilões para 2013
Diante do preço cada vez mais alto dos combustíveis fósseis em todo o mundo e da forte dependência nacional dos reservatórios hidrelétricos, os olhares se voltam dia a dia para outras fontes de energia, sobretudo renováveis. Eis a questão: como tornar o país mais seguro do ponto de vista energético? Nesse contexto, segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, a força dos abundantes ventos brasileiros tem se levantado como fonte energética cada vez mais promissora. De acordo com Élbia Melo, que conduz a ABEEólica há 1 ano e meio e atua há 12 anos no setor, todo o potencial eólico brasileiro representa mais que o dobro do potencial já instalado no país. Além disso, enquanto o preço do gás natural aumenta, devido aos elevados custos de exploração, a energia eólica tem se tornado cada vez mais competitiva, desde 2009, quando começaram os leilões desse tipo de fonte no Brasil. No entanto, mesmo toda essa abundância estudada não consegue justificar certos desperdícios: na Bahia, por exemplo, há quinze meses dezenas de turbinas eólicas só geram despesas, enquanto aguardam a conclusão das suas linhas de transmissão. Confira a seguir a entrevista com Élbia Melo, presidente da ABEEólica.
Quais são suas expectativas como presidente da ABEEólica?
Em relação ao ano de 2013, as expectativas são muito boas, porque nos últimos três anos tem havido resultados importantes, principalmente relativos aos leilões, desde 2009. A fonte eólica tem se mostrado competitiva e tem havido o reconhecimento por parte do governo como segunda fonte mais importante do país. Tudo isso é resultado do trabalho da associação.
Qual o foco de trabalho da ABEEólica?
A ABEEólica existe desde 2002 e tem como objetivo fomentar os investimentos na cadeia produtiva, formada por fabricantes de equipamentos, investidores, empresas do setor elétrico, prestadores de serviço (consultoria e desenvolvimento), fabricantes de equipamentos e periféricos. Contamos com 90 associados.
Dessas empresas, quantas são brasileiras?
O conceito de empresa nacional hoje é bastante controverso. Consideramos principalmente empresas que estão no Brasil e fabricam os seus produtos aqui. Por exemplo, dos 11 fabricantes, nove são de fora e dois são brasileiros, caso da Weg e da Tecsis.
Qual é a vocação do Brasil em relação à Energia Eólica? Esse potencial é devidamente explorado?
A vocação do Brasil para energia eólica é muito grande. O potencial eólico na geração de energia é de 300 GW, portanto há um futuro promissor. O Brasil tem explorado devidamente esse potencial. No passado a energia ainda era muito cara, mas se tornou competitiva a partir de 2009.
Qual é o potencial de cada unidade geradora?
O potencial das unidades depende mesmo de cada máquina. Na medida que a tecnologia avança, o potencial de geração das máquinas também aumenta. Hoje, as unidades têm 2 MW de potencial, mas estão sendo desenvolvidas unidades capazes de gerar 6 MW futuramente.
Qual é o planejamento da Associação para este ano de 2013? E para a década?
Trabalhamos no setor eólico em prol do seu desenvolvimento e temos alguns planos. O principal é participar dos leilões em 2013, que serão, pelo menos, quatro. As datas ainda não foram divulgadas, mas estimam-se dois no primeiro semestre e dois no segundo. O setor tem como meta vender, pelo menos, dois gigawatts por ano.
Quais os estados com maior potencial eólico?
Os maiores potenciais estão distribuídos no Nordeste e Sul. Dessas regiões, os principais estados são Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul. Mas são apenas os principais, pois há uma série de estados promissores.
Há várias usinas prontas, mas como resolver o problema da transmissão de energia?
Estamos encontrando dificuldades em relação aos empreendimentos de 2009. As linhas foram construídas com atraso e visam atender a 622 MW. O contrato garante ao proprietário da usina que, uma vez que a unidade geradora esteja pronta, ele será remunerado. Mas, além da geradora, existe a transmissora, e o dono do parque não tem responsabilidade sobre ela.
Quais seriam as formas de agilizar a construção das linhas de transmissão? As empresas de transmissão de energia são associadas da ABEEólica?
As empresas responsáveis pela transmissão são do setor elétrico, nem todas são associadas. O pagamento das geradoras não vem do governo federal, cujo único papel é dar as regras. A partir do leilão, a responsabilidade é das empresas envolvidas. As distribuidoras recebem recursos do consumidor e usam para pagar os proprietários do parque eólico. Quem está pagando é o consumidor, e a distribuidora não ganha nem perde. Essa tentativa de agilizar é também complicada, porque obra civil não tem como agilizar. O que resta é esperar. O atraso é de quinze meses. São dois parques no Rio Grande do Norte, com 324 MW, e um empreendimento na Bahia, de 298 MW, que é o maior parque eólico da América Latina.
Há possibilidade de implantar unidades geradoras no mar brasileiro?
A tecnologia offshore está sendo bastante utilizada na Europa, por um problema de carência de terreno. Então a tecnologia já existe, mas no Brasil o seu uso não está sendo pensado devido à grande extensão territorial e, consequentemente, o potencial onshore muito grande. A tecnologia offshore é muito cara. Talvez, se ficar mais barata, possa ser implantada mesmo antes de esgotar o terreno.
Qual é o potencial eólico do Brasil?
Hoje, o Brasil tem capacidade instalada de 120 GW no total. Só de potencial eólico, há cerca de 300 GW. Para 2020, o potencial instalado no Brasil vai ser de 180 GW. Atualmente, o consumo real do Brasil é de 59 GW. Portanto, a necessidade do Brasil ainda está bem inferior à capacidade instalada.
Qual tem sido a disposição dos investidores quanto à energia eólica? Quais são os maiores investidores?
O setor eólico está bastante atrativo e recebendo muitos investimentos. Temos dois perfis básicos de investimentos. Há empresas novas exclusivas de energia renovável, como é o caso da Renova e da BioEnergy, e existem grandes companhias de energia em geral, como do Grupo Eletrobrás.
Quais são os países que mais utilizam energia eólica?
Em primeiro lugar vem a China, em segundo, Índia, em terceiro, EUA, em quarto, Alemanha. O Brasil ocupa o 16° lugar. No final deste ano, vai ser o 10° colocado. Isso porque o país começou a investir em 2009. Dinamarca e Alemanha são pioneiros, estão há mais de 20 anos nisso.
No âmbito de desempenho insuficiente das hidrelétricas, dependente das chuvas, qual é a vantagem da energia eólica, que depende dos ventos?
Existe um principio básico que é: toda energia limpa, renovável, depende da natureza. Então trabalha-se com ela na média. A solução diante disso é contar com uma matriz energética diversificada, já que as energias são complementares. Na parte da energia eólica, o Brasil conta com os melhores ventos.
Como a ABEEólica se sustenta financeiramente para atender ao progresso da energia eólica no Brasil?
Na realidade, todas as associações nascem de um esforço empresarial. Foi assim que nasceu a ABEEólica. Com o tempo, a tendência de toda associação é se profissionalizar. Antes a ABEEólica era gerida pelos próprios empresários, mas hoje é necessário haver uma presidente dedicada à associação. Sou presidente desde o dia 31 de agosto de 2011. A ABEEólica é uma associação privada sem fins lucrativos, e como tal, funciona com a contribuição dos associados. Os participantes pagam mensalidade, proporcional ao tamanho de cada empresa.