Sindicatos conseguem negociar reajustes em atraso, mas os percentuais concedidos elevarão o índice de desemprego no Estado.

Nesta semana o Sindicato dos Empregados do Comércio Hoteleiro, Restaurantes, Bares e Similares e o Sindicato patronal da categoria em Porto Alegre e Região puseram fim a um impasse judicial que perdurou vários meses: o reajuste salarial dos trabalhadores, o qual deveria ter sido aplicado em janeiro de 2015.

O atraso da decisão sobre o percentual de correção ocorreu em razão do aumento salarial desproporcional de 16% no piso regional concedido pelo governo estadual ao final de 2014 e que atingiu diretamente o comércio gaúcho, fazendo com que todas as demais categorias passassem a exigir um percentual de aumento idêntico.

Não é preciso muito esforço para concluir que a economia não cresceu em patamar suficiente para alcançar esse acréscimo surreal.

Assim, os empresários explicavam sobre a impossibilidade, mas os trabalhadores mantinham a exigência. A discussão foi parar na Justiça, onde se concluiu pela aplicação do percentual de 8,23% a contar de janeiro. O percentual em questão é viável e de possível aplicação.

Porém, uma manobra interessante passou despercebida: juntamente com o percentual acima do INPC, a negociação coletiva determinou que o salário base dos trabalhadores deve aumentar em cerca de R$ 161,00, valor que deve ser pago retroativamente, desde janeiro de 2015, data em que a negociação deveria ter ocorrido.

Ou seja, bares, hotéis, restaurantes e similares foram atingidos com um aumento de 19% em sua folha salarial. Ninguém contava com isso, obviamente.

Para os empresários que contratam pelo salário base isso significa que deverão pagar, já no mês de outubro, o valor total acumulado desde o início do ano.

O proprietário de uma pequena padaria, por exemplo, com somente 10 funcionários, acaba de descobrir que possui uma dívida de cerca de R$ 15.000,00, que será acrescida de aproximadamente 30% em reflexos e integrações e que deve ser saldada de uma só vez até o quinto dia útil do mês de outubro.

Nem mesmo os trabalhadores comemoraram essa mudança, pois é certo que teremos milhares de demissões antes do final desse mês de setembro.

Em um ano em que poucas empresas estão conseguindo (heroicamente) manter suas operações e os empregos, não restam dúvidas de que a negociação realizada impactará de forma extremamente negativa na economia do Rio Grande do Sul.