O primeiro feito notório de Eriksson

Em março de 1982, o IFK encontrava-se à beira da falência. A situação financeira do clube sueco era tão crítica que os dirigentes tiveram de pedir dinheiro emprestado aos torcedores simplesmente para poderem pagar a viagem dos jogadores até Valencia, onde o time disputaria uma partida pelas quartas de final da Copa da UEFA — e possivelmente seria massacrado.

A goleada, porém, não aconteceu. Na verdade, a equipe de Gotemburgo arrancou um empate em 2 a 2 e, duas semanas depois, venceu o jogo de volta em casa por 2 a 0. Em seguida, para espanto geral, o time do técnico Sven-Göran Eriksson eliminou o Kaiserslautern na prorrogação e chegou à grande final da competição europeia.

Após superar grandes desafios, no entanto, o IFK se viu então diante de um obstáculo aparentemente intransponível: o Hamburgo, que vivia o período mais vitorioso dasua história. De fato, entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980, o clube alemão terminaria seis vezes consecutivas entre os dois primeiros colocados da Bundesliga, três delas como campeão, ergueria uma Recopa e conquistaria uma Copa dos Campeões da Europa em 1983, após um vice-campeonato três anos antes.

Não à toa, foi o badalado time de Ditmar Jakobs, Manfred Kaltz, Felix Magath, Lars Bastrup, Horst Hrubesch e companhia que dominou a primeira partida da final, disputada no Estádio Ullevi, na Suécia. Surpreendentemente, porém, a vitória ficou com os donos da casa, graças a um gol solitário de Tord Holmgren, que garantiu ao IFK uma pequena vantagem antes do jogo decisivo, no Volksparkstadion, há exatos 30 anos.

Ainda assim, poucas pessoas acreditavam que os suecos seriam capazes de segurar o resultado quando a bola rolasse na Alemanha. A situação mudou de figura quando, aos 26 minutos de jogo, o atacante Dan Corneliusson, de 20 anos, fez 1 a 0 para os visitantes com um um belo voleio.

Com a desvantagem no placar, o time de Ernst Happel foi para cima e dominou as ações, mas sem conseguir transformar a superioridade em gol. No início do segundo tempo, um desarme preciso de Holmgren impediu um ataque do Hamburgo e deixou a bola nos pés do experiente Torbjorn Nilsson, que arrancou da linha do meio de campo até a entrada da área alemã e bateu de canhota no canto inferior do gol de Uli Stein.

Apenas dois minutos depois, a defesa do Hamburgo voltou a ter problemas com a velocidade e a força de Nilsson, que foi derrubado na área. Stig Fredriksson bateu o pênalti com tranquilidade e fechou a espetacular vitória por 3 a 0, garantindo o título da Copa da UEFA ao IFK.

Após a conquista, Eriksson alcançou outros feitos notáveis: levou o Benfica ao vice-campeonato da Copa dos Campeões da Europa, deu à Lazio o segundo scudetto da história do clube e acrescentou troféus às vitrines da Roma e da Sampdoria. Além disso, o técnico sueco comandou a Inglaterra na histórica goleada por 5 a 1 sobre a Alemanha, fora de casa, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo da FIFA Coreia/Japão 2002. Apesar de todos esses títulos e façanhas admiráveis, nada se compara ao que Eriksson e o seu desacreditado IFK fizeram naquele dia 19 de maio de 1982.