Indústria de aves e suínos busca cortar oferta

Sem trégua no mercado de milho, insumo essencial das rações, a indústria brasileira de aves e suínos viu suas margens se deteriorarem ainda mais em fevereiro. Em meio a dificuldades de repassar a alta dos custos de produção aos preços dos produtos finais, o segmento começa a tirar o pé do acelerador, com o intuito de reduzir a oferta de frango e suínos e reequilibrar as margens. “Está terrível. Não tem alívio, o milho não cedeu e as carnes estão com dificuldades de subir”, afirmou o analista César Castro Alves, da MB Agro, braço da consultoria MB Associados. Conforme levantamento da MB Agro, a margem bruta da produção de carne de frango baseada no sistema de integração – como fazem BRF e JBS, por exemplo – ficou negativa em 6% em fevereiro, ante a margem zero de janeiro. Na produção de carne suína, a margem foi negativa em 17% no mês passado.

De fato, os preços do milho persistem em patamares elevados, basicamente por conta da valorização do dólar – o preço doméstico do cereal tem como uma de suas referências as cotações na bolsa de Chicago. O indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos do cereal já subiu 25,8% no acumulado de 2016, para R$ 46,35. No período, no atacado da Grade São Paulo, os preços do frango congelado caíram 6,5%, para R$ 3,89 o quilo, e os da carcaça suína recuaram 17%, para R$ 5,01 por quilo. Para o secretário-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Pintos de Corte (Apinco), José Carlos Godoy, diante dessa equação reduzir a produção é inevitável, mesmo que a demanda continue firme nos mercinterno e externo. No Brasil, onde a demanda continua a ser favorecida pelos elevados preços da carne bovina, o empecilho está na resistência dos consumidores em pagar mais, acrescentou o analista Adolfo Fontes, do Rabobank. Nesse sentido, a redução da oferta poderá ajudar a reajustar as cotações. “Tirar um pouco da pressão de super oferta colabora”.

Mas os impactos da redução da produção não são imediatos. Levam cerca de 45 dias no mercado de frango e alguns meses no de suínos. Isso porque, depois que os pintinhos foram alojados nas granjas, não há o que fazer e a produção de frango futura está garantida. O mesmo processo acontece com os leitões, mas nesse caso os suinocultores já vêm tentando vender animais mais leves. Na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria de aves e suínos, a avaliação é que os primeiros resultados da redução da produção de carne de frango vão aparecer em abril. Em maio, os principais efeitos deverão se materializar, afirmou o presidente da entidade, o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra.

Fontes, do Rabobank, realçou também que no mercado externo a demanda segue aquecida pelos produtos brasileiros. Além de contribuir para “enxugar” a oferta no Brasil e facilitar o aumento dos preços domésticos, o ritmo forte das exportações atenua o impacto sobre as margens, acrescenta o analista. Quando convertido de dólar para real, o valor da carne de frango in natura exportada pelo Brasil fica em R$ 5,38 por quilo, com o que seria possível adquirir 8,30 quilos de milho, segundo cálculos do Rabobank. Trata-se de um cenário mais favorável do que quando se considera o “poder de compra” do frango vendido no mercado brasileiro. Hoje um quilo de frango in natura só compra 6,08 quilos de milho.

Outro ponto favorável é que, no médio prazo, os preços do milho devem cair, disse Renato Rasmussen, analista do Rabobank. Para ele, o atual patamar de R$ 45 a saca não é “estruturalmente” sustentável. Rasmussen acredita que o cereal deve ficar mais próximo de R$ 35 a saca, especialmente com o avanço da safra de inverno de milho no Brasil e também com o aumento da área plantada com milho nos Estados Unidos, maior produtor do mundo.