Espanha será próxima vítima da má gestão alemã da crise

«Espanha pode ser a próxima economia derrubada pela má gestão da crise europeia, liderada pela Alemanha». É assim que o New York Times começa o seu editorial desta sexta-feira, dedicado ao país vizinho.

Para o jornal econômico, o desfecho não precisa ser este. Mas será certamente se a chanceler Angela Merkel e os seus aliados políticos não reconhecerem que nenhum país pode pagar as suas dívidas sufocando o crescimento econômico.

Os receios estão a levar os juros da dívida espanhola, na maturidade a 10 anos, a roçarem a barreira dos 6%,um nível perigoso. Também a bolsa espanhola (IBEX) acompanhou a tensão ao derrapar mais de 3,5%.

Tamanho único de Merkel não serve a ninguém

No editorial, o New York Times descreve a austeridade como uma cura de tamanho único que serve para todos, receitada por Merkel, e diz que a mesma não está a resultar em lado nenhum.

Depois de semanas de uma calma enganadora, e apesar das enormes injeções de liquidez por parte do Banco Central Europeu (BCE), os países da moeda única estão a escorregar novamente para a recessão, o desemprego está a subir e as previsões de défice estão a derrapar.

Sintomas negativos a que se junta o nervosismo nos mercados de dívida pública, sobretudo em relação às obrigações espanholas e italianas.

Europa está a lançar Espanha num ciclo destrutivo

Espanha está já destruída por um desemprego de quase 25% (e de quase 50% entre os jovens). Mas caminha para níveis ainda maiores de miséria ao abrigo do plano de austeridade revelado pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy no final de março, mesmo depois de a União Europeia ter pedido maior flexibilidade orçamental face ao aprofundar da recessão.

O Orçamento desenhado pelo governo de Rajoy deverá cortar o défice dos 8,5% registados em 2011 para 5,3% este ano e 3% em 2013. Uma meta que o New York Times diz ser inatingível, mesmo que tudo seja cumprido à risca, já que as previsões mais otimistas para este ano apontam para uma contração econômica de 2%. E quanto mais o PIB espanhol contrai, mais as receitas fiscais caem, exigindo ainda mais cortes orçamentais. É um ciclo destrutivo, sempre a descer.

Contrariando a receita de tamanho único defendida pela Alemanha e aliados, o jornal norte-americano escreve que «cada uma das economias europeias em dificuldades tem diferentes problemas, que exigem diferentes remédios. Espanha, por exemplo, tem um dos níveis mais baixos da Europa de endividamento público. Mas precisa de trabalhar no endividamento do setor privado, que deu para o torto quando a bolha imobiliária rebentou e os seus bancos fragilizados recorreram à ajuda do Estado. Isso levou o défice a níveis que não podem ser sustentados indefinidamente. Mas tentar baixá-lo demasiado depressa em tempos tão difíceis pode ser um tiro no pé.

Por isso, o New York Times critica os ministros das finanças europeus, por terem recusado apoiar Rajoy quando este pediu que a meta de défice para 2012 fosse revista, de 4,4 para 5,8%, um valor mais realista. Em vez disso, a Europa impôs um défice de 5,3%, e os mercados perceberam rapidamente que é improvável que Espanha consiga cumprir essa meta e começaram a exigir juros mais altos pela dívida espanhola, o que só torna a meta de défice ainda mais irrealista e difícil de atingir.

Queda de Espanha podia ser evitada se…

Sem outros meios para atingir as metas, Rajoy propôs várias «más medidas», como o corte do investimento público, que era necessário para impulsionar a competitividade da economia e a reforma do mercado laboral. Numa segunda ronda, o governo espanhol propôs cortes nas áreas da saúde e educação. «Cortar na força de trabalho de amanhã para pagar a bolha imobiliária de ontem não faz sentido económico», escreve o jornal.