Delta diz sofrer bullying e entra com pedido de recuperação

A construtora Delta, que está no epicentro das investigações envolvendo os laços do empresário Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas, pediu nesta segunda-feira recuperação judicial à Justiça do Rio de Janeiro. O pedido, enviado à 5ª Vara Empresarial do Rio, significa que a empresa reconhece que enfrenta dificuldades financeiras e é um passo para tentar evitar a falência de uma companhia. Em nota, a Delta afirmou sofrer “bullying empresarial”.

Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, uma assembleia de credores terá de aprovar o pedido de recuperação judicial da empresa. A Delta é suspeita de ter como sócio oculto o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro acusado de comandar uma rede de jogos ilegais. A empresa também serviria para lavar dinheiro que Cachoeira obteria com a exploração de jogos ilícitos, de acordo com investigações da Polícia Federal.

Em comunicado, a construtora afirmou que decidiu requerer recuperação judicial “como parte de nossos esforços para garantir sucesso na execução e entrega das obras em andamento que são de interesse público e garantir a sustentabilidade da empresa em longo prazo”.

A Delta, uma das empresas que mais tem contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), corre o risco de ser declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU), o que a deixaria impedida de assinar contratos com a administração pública.

“O envolvimento de alguns de seus executivos em supostos atos ilícitos, que estão sendo investigados judicialmente, tem levado a empresa a sofrer uma espécie de bullying empresarial. Em razão de notícias desta natureza que estão sendo veiculadas, várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas”, acrescentou a nota.

Na sexta-feira, a holding J&F, que controla o frigorífico JBS, desistiu de um acordo para comprar a Delta. A holding alegou que “o prolongamento da crise de confiança sobre a Delta tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo financeiro negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas”. No comunicado, a empresa afirmou que a desistência da J&F tornou sua situação financeira “insustentável”.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.