Crise. Um choque de realidade.

No cenário de crise empresarial nos deparamos com diversas teorias e soluções milagrosas para superação do estado de dificuldade das corporações. Dentre diversas ações e medidas que devem ser tomadas duas são fundamentais: a real conscientização do empresário e sua rápida reação às dificuldades e obstáculos que se apresentam. Isso fará a diferença lá na frente.

Financiar a operação e criar caixa, deixando de pagar impostos, com a esperança da vinda de um novo REFIS não é a melhor saída.

O empresário nunca mais vai se livrar desse passivo, carregado de juros e multas pesadíssimas e o valor da empresa vai desaparecer.

Se apropriar dos valores devidos ao INSS, rubrica funcionário, pode trazer consequências sérias, inclusive no âmbito penal. O não pagamento dessas obrigações, aliado a outras despesas acessórias e dívidas trabalhistas que são administradas sem solução só aumentam o problema, tornando a dívida da empresa incontrolável. Tudo até então é justificativa para gerar caixa, independente dos custos financeiro e da divida que, a essa altura, já tiraram toda margem e lucratividade do produto ou serviço vendido.

Dar o calote nos bancos e atrasar os fornecedores, sem nenhum plano efetivo de gestão é cortar o oxigênio da empresa. Com crédito mais acessível, o financiamento bancário pode ser um aliado nesse momento, desde que as regras do jogo estejam claras e a empresa demonstre que há um projeto de recuperação em andamento. Ingressar com Processo de Recuperação Judicial, sem um estudo prévio, muitas vezes com a participação de credores estratégicos pode ser um suicídio para a atividade empresarial. Há empresas que não sobrevivem há assembleia de credores, pois sem o respaldo destes se veem isoladas, sem crédito e matéria-prima para rodar a operação.

A geração de caixa, para pagamento dos compromissos diários – muitos deles atrasados e que só aumentam – não resolve o problema. Isso não é gestão de crise!

Comitês de Gestão de Crise são cada vez mais comuns em empresas em dificuldade. Profissionais internos da corporação e externos, através das consultorias, são direcionados para acompanhar indicadores e tomar ações pensadas e efetivas que tragam reação a atividade produtiva e corte nos custos, fundamentais em muitos casos. A criatividade em situações como essa também devem ser incentivadas e exercitadas.

Ter consciência das dificuldades, estabelecer metas e um plano de ação claro, aliado ao diálogo com os credores das diversas classes poderá acelerar a retomada das atividades sem grandes traumas, ou quem sabe até a venda da empresa ou a busca de investidores, providenciais em determinados casos.

* Presidente da Comissão Especial de Falências e Recuperação Judicial da OAB do Rio Grande do Sul