Acordo com a LBR deve atrair investidores

Patrícia Comunello

Um acordo da Lácteos Brasil (LBR) com credores não validará apenas o processo de recuperação judicial, mas poderá reativar o interesse de investidores dispostos a injetar dinheiro na empresa. A aposta é do sócio-diretor-superintendente da CRP Companhia de Participações, Clovis Meurer, que representa um fundo detentor de 2,3% do capital acionário da LBR. Meurer, que acompanha a modelagem do plano a ser entregue até 10 de maio à Justiça de São Paulo, acredita que as medidas envolvendo revisão da capacidade de produção, distribuição e linhas de produtos devem permitir que a geração de caixa positivo ainda este ano. A intenção é concluir os procedimentos para repactuar o passivo até agosto. Em 2012, a companhia tentou obter R$ 500 milhões com investidores, mas fracassou.

O executivo acredita que é possível alcançar em 2013 o chamado Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, combinando ajustes na operação e maior fôlego no caixa com o adiamento na quitação de compromissos com dívidas. A receita bruta deve repetir os mais de R$ 2 bilhões do ano passado. “O plano de recuperação dá esta condição. Tudo vai depender de como será concluído, o que inclui a concordância de credores”, vincula o sócio-diretor superintendente da CRP, lembrando que a operação do negócio e nova condição financeira têm de andar juntas. Reação dos preços e demanda por produtos em 2013 devem colaborar, citou o gestor. Os bancos são os maiores credores. O passivo é estimado em mais de R$ 1 bilhão. Os números de 2012 ainda não foram fechados, mas devem confirmar novo prejuízo. Meurer não comenta as cifras. O desempenho negativo tem sido atribuído a fatores de mercado, cadeia produtiva, estiagem em 2012 e efeito de tributação do setor.

A possibilidade de atrair novos sócios, principalmente candidatos estrangeiros, que chegaram a examinar ativos e a situação geral do grupo no ano passado, é sustentada pela perspectiva de um acordo com aval da Justiça. “Empresa em recuperação judicial e acordo com credores é mais facilmente entendida por um possível investidor. Quem olha a empresa não tem mais dúvida. Está escrito perante um juiz”, reforça Meurer. O pedido para usar o mecanismo de adiamento de quitação de dívidas, previsto na nova Lei de Falências para Sociedades Anônimas, foi anunciado em 15 de fevereiro. Segundo o executivo da CRP, a medida foi recurso após “um mês e meio de muito exame” e depois de esgotar, em dezembro, conversações com grupos interessados em aplicar no negócio. “Cinco grupos analisaram a LBR em 2012, durante todo o ano”, informou o executivo.

Enquanto buscavam dinheiro novo, os acionistas alteravam o comando. O executivo Rami Goldfajn, ex-conselheiro da BRF, assumiu a presidência, e Nelson Bastos, ex-presidente da Gradiente e especializado em reestruturações de empresas, também reforçou o time no comando da recuperação judicial. O fundo CRP VII, que está no laticínio e tem recursos dos fundos de pensão da Funcef, Petros e Valia e do Bndes, da Finep, da Fapes e da CRP, deve esperar mais dois anos para fazer o desenvestimento dos R$ 50 milhões aplicados em 2010. A projeção de sair este ano foi adiada para obter melhor retorno, esclareceu Meurer. A composição acionária tem ainda Monticiano (com maior participação), Bndespar e o empresário Wilson Zanatta (fundador da Bom Gosto). A LBR foi criada em 2011, na fusão do laticínio gaúcho Bom Gosto e Leitbom.

A empresa não comenta se ocorrerão novas demissões entre os mais de 4 mil empregados (eram 5 mil em 2012). Até agora foram quase 500 em unidades do Estado e de Santa Catarina. Não houve acordo com sindicatos de trabalhadores para que a LBR parcelasse o pagamento de verbas rescisórias. O presidente da Fetag-RS, Elton Weber, disse que não há registros de atrasos no pagamento dos cerca de 3 mil produtores gaúchos ligados à companhia. Mesmo assim, Weber admite preocupação com eventual impacto do fechamento de unidades de processamento. “O cenário para os produtores é de estabilidade. A garantia da empresa é de que não haverá mudanças para o setor”, explicou o dirigente, a partir de conversas com a indústria. “Até porque, se parar a produção, a empresa quebra mesmo”, associou Weber. O presidente da Fetag-RS evitou projetar expectativa sobre a recuperação judicial, prevenindo que há histórias de grupos que conseguiram reverter crises e outros que não.