Acidentes de trabalho em frigoríficos crescem

O Rio Grande do Sul é o segundo do ranking de estados brasileiros onde mais acontecem acidentes de trabalho em frigoríficos, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). Em 2013, chegou a encabeçar a lista, somando 2.313 casos. E, apesar de conseguir cair na colocação, sendo superado pelo Paraná (que registrou 2.718 casos), em 2014 o Estado não diminuiu o volume de ocorrências, pelo contrário, aumentou. Foram comunicados 2.686 casos, entre doenças relacionadas ao tipo de trabalho (203 registros), acidentes típicos, decorrentes da atividade profissional (2.249), e acidentes de trajeto, ocorridos entre a residência e o local de trabalho da vítima (234).

Em todo o País, os acidentes de trabalho nestas empresas somaram 16.033 casos registrados em 2014. De lá para cá, ocorreram 31 operações do Ministério Público do Trabalho em frigoríficos gaúchos (nove eram empresas do segmento de suínos, sete de bovinos, 14 avícolas e uma fábrica de ração). Em todas, participam também representantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Alimentação e Afins (Cntaa) e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS). Na mira da fiscalização estão cerca de 40 empresas de grande porte (com mais de 200 trabalhadores). «Praticamente todas que visitamos estavam em situação irregular», comenta o procurador do Trabalho, Ricardo Garcia.

Entre as causas de notificações, autuações e interdições que ocorreram neste período, as principais são relacionadas à segurança de máquinas e ergonomia. Outros casos incluem jornada excessiva, inadequação de manutenção de equipamentos e ritmo elevado de produção – que ocasionam lesões por esforço repetitivo. Segundo o MTPS, o setor de frigoríficos é o que mais causa adoecimento aos trabalhadores, informa Garcia. «Chega a ser quatro vezes mais que a média nacional, incluindo todas as atividades econômicas.»

Em 2010, uma pesquisa realizada pela Cntaa em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), detectou que o afastamento de 20% da mão de obra em frigoríficos gaúchos ocorreu devido a doenças relacionadas ao trabalho. «O índice de doenças ocupacionais é alarmante, muitas vezes levando trabalhadores à aposentadoria precoce», pontua o secretário executivo da entidade no Estado, Darci Rocha.

O dirigente acena para o ambiente «frio, úmido e mórbido» que gera depressão em 20% deste total de afastados por doenças. «Muitos precisam tomar remédios tarja preta para manter o equilíbrio e seguir trabalhando diariamente nestes locais de morte.» Para se ter uma ideia, no ramo de bovinos se matam cerca de 700 a 800 bois por dia, enquanto nos demais setores são abatidas 60 mil a 70 mil aves/dia e 1.500 suínos/dia – essa é uma média por empresa. «O churrasco que chega na mesa dos gaúchos tem uma carga pesada de sofrimento dos animais e das pessoas que deixam seu sangue nestes locais para ganhar um salário miserável, de cerca de R$ 1.200,00 mensais», declara Rocha.