A paralisia do empresário na crise.

É impressionante como em momentos de crise, o mercado e a mídia em geral dão ênfase para as medidas necessárias para solução das dificuldades enfrentadas pelas empresas.

Consultorias sérias e profissionais experientes não querem inventar a roda, apenas defendem que ações de gestão sejam efetivamente aplicadas, com corte de custos, diminuição da estrutura, reposicionamento dos produtos, ações de engajamento de pessoas, melhora na comunicação interna e proteção do fluxo de caixa.

Como suporte a essas medidas o endurecimento na relação com credores, objetivando diminuição da dívida, multas e custo financeiro, é essencial para que a empresa se adapte a nova realidade de mercado.  Mas por que na prática isso é tão difícil, mesmo com empresários experientes e esclarecidos?

Há uma letargia do empresário e das diretorias, que acreditam ainda que a crise é passageira e a solução é sempre externa. O nível de faturamento e lucro que caíram, naturalmente irão voltar a patamares anteriores e as contas vão se equilibrar. Com o endividamento e custos financeiros aumentando numa bola de neve a empresa vai minguando o caixa. Como resultado, os impostos, os fornecedores e acessórios trabalhistas não são pagos.  Na maioria dos casos a área financeira vira uma bagunça. Os poucos recursos que entram são imediatamente direcionados para contas não estratégicas e que não contribuem para o salvamento da empresa. Quando salários começam a atrasar e já não há canais para compra de insumos, a crise entra num estágio agudo, mas ainda assim o empresário continua sua rotina achando que a solução é externa.  A saída usual é peregrinar por bancos e instituições financeiras na busca de mais e mais recursos financeiros, naturalmente com juros mais altos em razão do risco, para financiar seu sonho. Afinal a empresa passou por outras crises!  O que existir de patrimônio pessoal do empresário e de seus familiares será hipotecado para obtenção de dinheiro a qualquer custo. A maioria não consegue!  Crises vão deixando marcas e ineficiências que se cristalizam muito em momentos como esse. Um dia a empresa não aguenta. Para se obter resultados diferentes as medidas devem ser diferentes. Em cenários de dificuldade extrema digo que é melhor uma decisão errada, sujeita a ajustes, do que não tomar decisão alguma e apenas esperar. O empresário tem de agir para deixar a empresa enxuta superando o trauma de estar bem menor que a média do mercado, protegendo não o faturamento por si só, mas a rentabilidade do negócio. Mais enxuta e mais eficiente, será mais fácil engajar o grupo nos ajustes ainda necessários e criar um ambiente para inovação, reposicionamento, lançamento de novos produtos e novas parcerias comerciais. Quem sobreviver apresenta valores e princípios corporativos mais fortes e competitivos, aproveitando as melhores oportunidades, novas linhas de financiamento e vácuos no mercado deixado por concorrentes que tombaram ou ainda continuam pensando em como agir.