BVRio negociará crédito de logística

Começa hoje, no Rio de Janeiro, um inédito pagamento de serviços ambientais a catadores de material reciclável. A bolsa de valores ambientais BVRio irá negociar créditos de logística reversa de embalagens. O primeiro lote, de 1.200 toneladas de plásticos e de vidro, será comprado pelo grupo Boticário.

O potencial de mercado é grande. Estima-se que anualmente 20 milhões de toneladas são jogadas fora sem ser recicladas no Brasil. O governo só consegue coletar 2% deste volume. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que o valor de produtos recicláveis que não são reciclados é de R$ 8 bilhões ao ano.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, determina que fabricantes de sete setores da economia retirem do mercado as embalagens dos produtos que comercializaram – a chamada «logística reversa». «É a marcha ré da distribuição de produtos, o caminho da reciclagem», diz Pedro Moura Costa, presidente-executivo da BVRio.

A BVRio fechou uma parceria com o Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis, que reúne cooperativas em todo o Brasil. «A ideia era ajudá-los com a criação de um mecanismo que fizesse com que fossem pagos pelo serviço de triagem e envio à reciclagem», diz Costa. O Brasil tem 800 mil catadores que trabalham nas ruas e nos lixões. Conseguem reciclar quase 90% das latinhas colocadas no mercado. O trabalho tem impacto na economia e no ambiente, beneficia municípios e empresas.

«Um catador ganha em média R$ 500,00 por mês vendendo três toneladas de alumínio», estima Costa. «Agora, além da receita que faz vendendo o material para reciclagem, pode vender o serviço ambiental que prestou para as empresas. É uma segunda fonte de renda.»

«Estamos formalizando a primeira compra de créditos de logística reversa», diz Malu Nunes, gerente de sustentabilidade do grupo Boticário. A empresa irá comprar créditos correspondentes a 1.200 toneladas de três tipos de plástico (polipropileno, PET e sucata de plástico) e vidros. «Vamos fazer a primeira compra e esperamos alavancar este mercado», diz ela.

«Para a cooperativa é maravilhoso», diz Ionara dos Santos, diretora presidente da Avemare, cooperativa de Santana do Parnaíba, em São Paulo, que coleta cerca de 500 toneladas por mês. O Boticário comprou R$ 10.200,00 em créditos da cooperativa. Os recursos ajudarão a pagar despesas da associação e a manutenção de máquinas. «Esta iniciativa vê o catador como um prestador de serviços, que é o que ele faz», diz ela.

A BVRio trabalha há seis meses no projeto de créditos de logística reversa. Cadastrou mais de 100 cooperativas no Brasil, que representam 3 mil catadores. O sistema funciona assim: um catador separa uma tonelada de material reciclável e o vende, emitindo notas fiscais eletrônicas. O certificado da logística reversa é produzido neste momento. «As empresas podem comprar o certificado sabendo que estão contribuindo assim à logística reversa de seus produtos. É um jeito de elas cumprirem com suas obrigações sem terem que criar um departamento de reciclagem», diz Costa.

A compra do Boticário começou há dois dias. Uma tonelada de PET está sendo ofertada a R$ 100,00 e R$ 120,00. Uma tonelada de plástico duro custa entre R$ 120,00 e R$ 150,00. Vidro está cotado em R$ 150,00. «Toda a semana as cooperativas estarão oferecendo o material reciclável», diz Costa. «A ideia é conseguirmos agregar valor ao que não tem, além de diminuir o volume de lixo.»

Os créditos de logística reversa negociados através da BVTrade, a plataforma eletrônica da bolsa verde, podem aumentar a renda dos catadores em 30% a 40%, estima Costa. A biscoito Piraquê, associações de biscoitos e massas, e o grupo Marfrig teriam demonstrado interesse em adquirir tais créditos, adianta. A BVRio foi criada em 2012 para operar mercados de ativos ambientais no País.

O Boticário investe R$ 2 milhões ao ano, desde 2013, em logística reversa – dos coletores de embalagens nas 3600 lojas no Brasil à compra de créditos da BVRio.