Ativos em baixa. Aquisições em alta.

Uma crise financeira duradoura desaquece a economia, retraindo investimentos e consumo. Causas e efeitos se misturam com diversas teses e soluções para os tempos de dificuldade.

Mas é nessa hora que o mercado de fusões & aquisições e seus advisors buscam, com olhos de águia, as melhores oportunidades de mercado. É bom lembrar que não são todos os investidores, sejam eles fundos

ou empresas, que estão aptos ou dispostos a encarar um processo de aquisição de empresas endividadas ou em crise aguda. Mas é unânime que se os riscos são maiores, as possibilidades de ganho crescem na mesma proporção ou em muitos casos ultrapassam qualquer expectativa.

Adquirir ativos depreciados e empresas deficitárias requer uma análise profunda em diversos fatores, e não apenas indicadores de mercado, complementariedade, sinergias e riscos básicos de uma operação de aquisição ou fusão.

Dentre eles listo alguns. A compradora deve entender os reais motivos que levaram a empresa-alvo ao estado de crise; se há brigas internas e enrosco societário. Ainda, deve verificar se a estrutura de custo está inchada, se há incapacidade gerencial e desmandos. Investimentos mal alocados e desvio de recursos, falta de comprometimento do corpo funcional, excesso de turnover de funcionários e produtos ou serviços ultrapassados e desconectados da realidade também devem ser analisados. Por fim, mas não conclusiva, a verificação deve seguir sobre a falta de investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) e a entrada de um player agressivo que possa ter bagunçado o mercado e tirado competitividade da empresa e outros concorrentes.

Esses são apenas alguns fatores que levam o comprador, no processo de M&A, após firmar o memorando de entendimento que define o preço e condições de pagamento, a mergulhar mais a fundo na due diligence; ou seja, um processo de auditoria investigativa, que busca apurar se o cenário econômico-financeiro e contábil-jurídico da empresa-alvo fecha com a realidade informada pelo vendedor.  Apurar as dívidas, passivos ocultos, riscos ambientais e regulatórios devem ser feitos nessa fase do processo, com clareza e transparência, pois surpresas que surgem podem impactar no preço e colocar o negócio a perder.

Vencidas tais etapas, apresenta-se uma fase crítica! A negociação com os credores estratégicos e àqueles com grandes valores alocados na empresa. O sigilo é alma do negócio e essa abordagem tem de ser certeira. Se o credor entender que possui papel fundamental no processo e tem disposição para riscos (caso o negócio não saia) ele aplicará o mínimo deságio, frente a compradora que certamente está disposta e tem mais recursos para pagar a dívida. O Instituto da Recuperação Judicial também tem sido muito requisitado nessa fase do processo de negociação. Fundos de investimentos e investidores deixam a cargo do vendedor buscar a moratória legal e aprovar o plano de pagamento, com o respaldo e fiscalização do Judiciário, para somente depois, ou na assembleia de credores, apresentar a proposta de compra com as condições do negócio, evitando-se pressão e especulação por parte do mercado e dos próprios credores.

Por fim, dependendo da gravidade da crise, a saída para a empresa será a falência, o que sempre assusta o mercado, por tratar-se de uma liquidação, muitas vezes involuntária e por trazer mais perdas que benefícios.  Mesmo assim, o mercado de M&A está de olho nessas oportunidades, com ativos altamente depreciados e sem sucessão pelas dívidas, cuja aquisição é feita por leilão judicial ou carta-proposta.  Marcas, patentes, linhas e unidades produtivas são vendidas de forma fatiada, por preços que atingem mais de 90% de deságio, em alguns casos. Conhecer as regras do jogo e ter aptidão para risco é a porta de entrada para esse mercado.  Sorte e instinto cada competidor busca os seus!